Onde está a próxima Revolução?

Mais uma cisão em nome da unidade


Jerónimo de Sousa já disse que "não se coloca" a questão dum entendimento eleitoral com o Bloco por causa, entre outras coisas, das "divergências em questões de fundo, em relação à União Europeia e em matéria económica". Mas a Ruptura/FER não se conforma e logo em seguida Gil Garcia pré-anunciou a saída do Bloco na próxima Convenção - a três semanas das eleições - "para formar uma nova força política que obrigue o PCP e o Bloco à unidade".

Se eu fosse um mercado

Sem mecanismos comunitários que o impeçam, continuamos a vender dívida a juros cada vez mais altos e a recusar a possibilidade de solicitar o "auxílio" do FMI na esperança de que os mercados voltem a ter confiança no país.

Se eu fosse um mercado, punha um charuto na boca e esfregava as mãos de contente perante a possibilidade da subida de juros e esticava a corda até o país estar exangue. Mas, para além de eu não ser um mercado, sou um tipo ganancioso. Felizmente, estes mercados que perderam a confiança em nós só precisam de ser convencidos de que somos uns tipos porreiros. Tenho, por isso, a convicção de que se conseguirmos aguentar até ao Verão, organizamos uma sardinhada e pomos um ponto final na crise.

Um currículo como se uma vida

A vida dela escrevia-se como se um currículo. O currículo era como se a publicidade da vida dela tão outra. O currículo era como se o obituário entrelinhado das esperanças de um si mesmo tão ausente. O currículo, entrelaçado à indispensável carta de apresentação mutante, fazia perigosamente estar ali tudo.
Apesar de se escrever nele apenas o reverso de um mundo de anúncios. Capacidades, empenhos, destrezas. Inovação por medida, liderança e espírito de equipa, juventude e experiência máxima. Dinamismo conformista. Uma auto-confiança tão elaborada que era uma fragilidade evidente. O currículo era a escrita de um campo de valores artificiais e de uma política do eu produtivo numa linguagem tão empresarialmente correcta que ela não poderia nunca acreditar que ali se escrevia.
Assim, ela insistia intimamente tanto que não, quanto publicamente fazia crer(-se) que sim. Publicamente, escrevia-se nesse eu táctico uma outra pessoa necessariamente competitiva, a puxar de galões, buscando capitalizar qualquer pedaço dessa vida que vendia a seu favor, necessitando de acreditar nele para se fazer acreditar. Excepção e palco, numa perfeição que fazia quase suspeitar que não se pudesse encaixar ali uma vida.
Intimamente, o currículo surgia apenas como a escrita formal de um eu aparente, feita para permitir que alhures houvesse essa outra vida secreta que não é passível de ser escrita nos currículos. Cabelos, chuva, manhãs sonolentas e sorrisos cúmplices, pequenas coisas as maiores que não cabem num currículo. Os vícios privados e insignificantes que existem no tempo em que a vida se revolta e tem existência acurricular.
A vida dela insistia em escrever-se perfeitamente como se um currículo. Foi daí que surgiu o pesadelo recorrente de que o obituário da sua vida real era apenas o seu currículo.

Sócrates obcecado pela "geração parva"

A crise como teatro político

Entra finalmente em cena a crise política esperada. E, sob o pano de fundo da crise económica, a austeridade encena-se como alternativa à austeridade. Daí que a tragicomédia da vida política portuguesa seja de má qualidade: um entretenimento ligeiro para fugir à realidade, previsível e pastoso.

PEC, o enredo interminável


PECado de surpresa, Passos Coelho afirma solenemente: o teatro acabou. E o número teatral sobre o fim do teatro parece resultar. Escreve um jornal de referência que a sala gelou. Apesar disso, todos sabem que a interpretação de Passos Coelho é fraca. Finge sofregamente não querer o PEC IV por calculismo político, para que seja já a sua vez de ir receber ordens da senhora Merkel. Por sua vez, Sócrates, que lhe tinha induzido a deixa, sabe como prosseguir a peça: o seu balão de oxigénio é o discurso “ou eu ou o FMI”, criador de instabilidade, o PSD será o filme de terror.

A crise política é esta dramatização vazia, a cortina que esconde o pacto político profundo para emagrecer o Estado Social e fazer pagar a crise aos/às mais pobres. Dramática mesmo é a nossa vida de austeridade imposta. O PEC é já o enredo interminável de um filme de terror social. E os que se declaram protagonistas da vida política portuguesa são apenas candidatos a produzir as suas sequelas.

(...)

Teatro da rua

Para além da instrumentalização passageira de Cavaco, os outros principais actores políticos vão fingindo que não se passou nada na rua. Talvez pensem que, se fingirem muito, a rua se esquecerá da força que sentiu. Talvez pensem que o discurso repetido da política da inevitabilidade há-de prevalecer. Talvez pensem que a televisão é o palco único possível da política e que esse palco é deles todos os dias. Mas o dia 12 de Março provou que a política pode mudar de palco. Provou que a inevitabilidade imposta se desfaz quando a vontade colectiva se afirma. Provou que a força de que não gosta destes enredos não está esquecida.

O teatro da rua é a política de novo socializada. E só esta força pode derrotar a austeridade, a memória selectiva do autoritarismo e o desejo de colocar os lucros acima das nossas vidas.


Ler na totalidade aqui.

E o stresse do povo, pá?

O "sobressalto cívico" começa a dar resultados!

Pérolas do debate parlamentar (Colheita 2011)

Identidades musculadas

A proclamação percorreu a Europa. Os governantes conservadores dos mais poderosos Estados europeus declararam estridentemente: o multiculturalismo falhou.

Nunca esclareceram o que entendem por multiculturalismo nem porque supostamente falhou. Limitam-se a constatar esse “falhanço” como se fosse óbvio e a apresentar como alternativa um assimilacionismo duro feito de “identidades musculadas” como se fosse a única solução. Ao fazê-lo apoiam-se e estimulam preconceitos profundos da Europa “civilizada”, pronta a (re)descobrir bodes expiatórios em tempo de crise. (...)

A proclamação de falhanço do multiculturalismo ilude o balanço da política imoral da Europa fortaleza, do “Frontex”, da “directiva da vergonha” (que uniformiza o modo de tratar estrangeiros/as ilegais: ou seja dá-lhes a expulsão como futuro), dos centros de detenção de imigrantes que permitem uma regulação muito musculada da mão-de-obra feita de abusos constantes, num jogo do gato e do rato que fabrica sem-papéis, seres humanos ilegais. E mesmo quem tem documentos só teria lugar na Europa como trabalhador/a descartável. No fundo, é este carácter utilitário, o sonho de usar mão-de-obra e de a mandar fora mantendo as características essenciais “puras” da sociedade de partida, que entrou em colapso porque os/as imigrantes estão para ficar e trouxeram outras formas de viver. E face a esta evidência responde-se mantendo más condições, juntando estigmatização ao mais alto nível e propondo assimilação, ou seja apagamento do que antes se procurava tornar invisível.

A verdadeira face da política de imigração europeia encontra-se cruamente nos campos agrícolas do Sul da Europa. A verdadeira face da política de imigração europeia encontrava-se na violência dos regimes ditatoriais do norte de África que, para além de fornecerem matérias-primas valiosas, serviam/servem de preciosa válvula para estancar a entrada massiva de imigrantes. As declarações de Merkel e companhia que remetem para um “perigo islâmico”, para uma Europa minada de minaretes, com as ruas cheias de véus e de burkas, escondem a islamofobia. E não deixa de ser irónico que as revoltas árabes pela democracia e pela justiça social lhes tenham respondido com tanta prontidão colocando em causa os seus preconceitos de base.

A verdadeira face da política de imigração europeia está ainda mais claramente na estimativa de que, desde 1988, 14.000 pessoas morreram na tentativa de penetrar nas muralhas da fortaleza Europa. Tolerância excessiva?

(...)

O resto está aqui.

"Elas somos nós" ontem, hoje e sempre


Neste Dia Internacional das Mulheres, breve retoma blogosférica.

8 de Março-Um dia que nasce, em 1910, para dar visibilidade às lutas de mulheres trabalhadoras por melhores condições de trabalho, pelo direito ao voto, por direitos, por igualdade e que nasce precisamente também para denunciar as desigualades gritantes e dar alento a uma mudança estrutural. 100 anos depois (começou a ser celebrado em 1911) importa termos memória histórica, não esquecer de onde vimos, o que contribuiu para a mudança, olhar sem palas, mas com confiança, para as realidades que temos e continuar a construir a mudança necessária para uma efectiva e plena igualdade.

Hoje, em diversos sites, redes sociais, jornais, podem encontrar-se vídeos, artigos, etc, muito bons sobre este dia, o que ele representa, o que ele pode vir ainda a representar, o muito que resta por fazer, acima de tudo: as realidades para as quais ele nos convoca. Deixo aqui alguns, muito diversos:

http://www.youtube.com/watch?v=aJvO716LH4c (Campanha Dia Internacional das Mulheres, Brasil)
http://www.ionline.pt/conteudo/109047-o-papel-das-mulheres-na-reconstrucao-um-novo-egipto (O Papel das mulheres na reconstrução de um novo egipto, jornal i)
http://www.publico.pt/Sociedade/a-violacao-usada-como-arma-de-guerra-no-congo_1483727 (O corpo das mulheres usados como armas da guerra, Público)
Adenda: Ora, vejam lá mais estes (sim eu sei, não só pouco escrevi como ainda só remeto para escritas dos/as outros/as. É o que se chama "ter lata", um direito que as mulheres também a custo lá foram adquirindo:)
http://www.youtube.com/watch?v=J9oMOoQXSSI&feature=relat (video homenagem de uma organização de homens contra a violência, américa latina)
O título desde post usa e abusa do título que tanto me diz e significa do livro da Andrea Peniche.


Emoção de censura

Deolindando de barato isso da geração e da educação, aconteceu que uma música permitiu identificações colectivas e soltou uma emoção que andava entalada em muitas gargantas. Uma sonora emoção de censura.

Não vale a pena fazer muitos exercícios à sua volta para procurar as suas limitações estéticas ou políticas. Sabemos que, como chapéus, gerações há muitas, e parvos ou palermas, encontraremos à sombra da mesma condição gente de muitas idades, encontraremos muitas resignações e resistências diferentes. Para além do mais, muitos/as dos verdes estão afinal já mais que maduros. E, sim, isso do canudo não é privilégio nem via rápida para o emprego, é direito. Sim, o que é parvo de facto, apenas e tão só, é ser escravo/a numa sociedade de abundância.

Deolindando de barato isso da geração e da educação, dia 12 será dia de emoção de censura. Uma estridente emoção de censura. Precários/as, já nos identificámos, já nos encontrámos, já nos fizemos ouvir. Falta desconstruir profundamente a ideia que isto tem mesmo de ser assim. E impor a possibilidade de mudar tudo.

Merkel, escuta: Vais levar com os Homens da Luta!

Khadafi fala aos portugueses

So you think you can, bitch?

Acabou-se a geração à rasca! Não mais seremos mal tratados por uma economia parva e, como bónus, não mais teremos que ouvir os Deolinda.


Mas o que raio é um "pitch"?
Fácil, um "pitch" (lê-se pêtch) "é uma apresentação simples e clara de quem és e o que procuras, o que te torna único e especial".

Fixe! E posso falar sobre o quê?
"Fala de ti e do que te torna uma proposta de valor única! Fala das tuas viagens de interrail, dos grupos que crias no facebook, do site/blog que escreves, das motas que coleccionas e dos raids de fotografias que fazes aos fins-de-semana. Mostra que és a pessoa que ajuda os amigos quando precisam, que és desenrascado e muito mais do que a tua formação e experiência profissional."

Iupi! Eu faço isso tudo! Mas sou tão envergonhado...
"Nós estamos à espera que fiques nervoso e que tenhas incerteza e dúvidas. ARRISCA!"

Mas o que é que dizem as pessoas que já arriscaram?
A Carina de 22 anos, por exemplo, diz que "crise é uma palavra que não existe no meu vocabulário", o Francisco, de 29, diz que quer "enriquecer a marca «Eu»" e o Ricardo, de 24, diz: "As letras do meu ADN formam sempre as mesmas palavras: Pro-Actividade, Espírito de Equipa e Vontade de Vencer! Junto o útil ao agradável! Sou um mouro do trabalho e ainda o faço com um sorriso de satisfação estampado no rosto. Adapto-me bem a novas realidades e faço por aprender mais e melhor. Para mim, não há barreiras, existem metas!".


Por isso, se consegues escrever frases com muitos pontos de exclamação, vem-nos mostrar quantas vezes consegues dizer "Puta que vos pariu!" em 2 minutos!